Vandovsky
Um resto de tudo
Palavras de mãe
Neste dia especial, deixo aqui uma pequena homenagem à minha mãe, tornando pública uma carta que dela recebi, tão simples, mas que tão profundamente exprime o amor de uma mãe.
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Sebastião da Gama,
in 'Antologia Poética'
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Palavras para a Minha Mãe
Adorei, meu filho
Mãe, tenho pena, esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
Pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
Às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
Lê isto: mãe, amo-te.
Eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
in "A Casa, a Escuridão"
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Tuas mãos, Mãe...
(Oferta do meu filhote)
Tuas mãos, Mãe...
São duas flores a viverem
Do sopro dos meus beijos,
Dois pedacinhos de lua
Reflectindo
A ternura e o amor com que eu as vejo.
João F. Saul Viegas
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Mãe
Almada Negreiros, José de
"Maternidade", 1935
Óleo/Tela
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça contar histórias ricas que ainda não viajei! Traz tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
Poema de Almada Negreiros (1893-1970)
Mãe!
Que verdade linda,
o nascer encerra,
Eu nasci de ti,
Como a flor da terra!
Matilde Rosa Araújo
Pablo Picasso
"Femme et enfant", 1922
Mãe... São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o Céu tem três letras...
E nelas cabe o infinito.
Para louvar nossa mãe,
Todo o bem que se disse
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer...
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do Céu
E apenas menor que Deus!
Pablo Picasso
"Maternité", (1881-1973)
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Dia da Mãe