Vandovsky
Um resto de tudo
Cerejas em festa...
A festa da cereja, aconteceu, na sua 8º edição, uma vez mais em Alcongosta; pequena aldeia situada em plena Serra da Gardunha, limitada pelas freguesias de Fundão, Donas, Alpedrinha, Castelo Novo, Souto da Casa e Aldeia de Joanes e envolvida pelos imensos cerejais e as vistosas manchas de castanheiros e pinheiros de vários tipos, que lhe oferecem um conjunto ímpar de cores.
A animação de rua foi assegurada por diversos grupos de bombos. A música, no âmbito da cultura popular, ocupa um lugar importante. Sem dúvida, revela-se, de uma forma singular, guardiã da herança do passado e faz reviver a tradição associada às actividades agrícolas e aos festejos colectivos de outros tempos.
Em cada uma das 90 tasquinhas espalhadas pelas ruas da aldeia, podíamos eencontrar mil e uma iguarias únicas.
Das cerejas eu lembro que eram doces...
A Cereja da Cova da Beira é uma das espécies fruteiras de maior peso na economia agrícola regional. É o ex-libris da Cova da Beira, sendo-lhe já atribuída a designação de “ouro vemelho”. A plantação de cerejeiras começou nos finais do séc. XIX, mas o seu desenvolvimento económico deu-se apenas a partir de 1950.
Criado há três anos, o pastel de nata de cereja é agora promovido dentro e fora do país. Esta nova aposta do Fundão junta assim a cereja da região a um dos doces mais típicos de Portugal, o pastel de nata.
Pois é, pelos vistos... Nem a ovelhas lhes resistem...
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A cerejeira
Da flor aos frutos – a celebração:
a frágil floração anunciando
que na pureza se colora o sangue
que no altar da terra é devoção.
Surgiu como a beleza – nos confins
do tempo em que nasceu a primavera:
por isso nela nunca o branco finda
porque o vermelho nele se conserva.
Seu ramos de manhãs tão generosos
dobram-se ao peso da prosperidade,
e felizes nas dávidas dobradas
aguardam bocas ávidas donosas.
Renega a dor, a deusa da alegria!
Mitiga sede o leite dos seus seios!
Senhora humilde vigilante dizem
que protege a fartura das colheitas.
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Poema de amor...
Sê paciente, espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a...
...mereça
Eugénio de Andrade
As palavras verdes só são azedas se
amadurecidas na página
entregues a uma branca corrosão
do tempo
vamos por isso
ceder à impaciência e
provar na primavera
o amargo do fruto em flor
que vale mais
esta palavra verde ainda
do que qualquer sinónimo
,
meu amor
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Árvore
Quero entrar na flor dos
Teus lábios
de cerejeira,
Dançar na carícia amena
Do teu sangue
Arder entre glicínias
e laranjais,
na brisa quente
do corpo de erva
e barro.
Ser tu e eu
No verso de água
dos gestos em comunhão.
Ficar enfim no teu olhar
Como quem se transforma
em árvore
Depois da longa caminhada.
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A uma cerejeira em flor
A uma cerejeira em flor
Acordar – ser na manhã de Abril
a brancura desta cerejeira,
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira.
Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz, o que quer que seja,
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração de uma cereja
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A Primavera chegou com poesia...
Em Todas as Ruas te Encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera."
"Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.
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Um dia na Cova da Beira
Das cerejas
eu lembro que eram doces.
Eram rubis de brinco
nas orelhas
e serviam de troca
boca a boca
no entretém guloso
dos namoros.
A voz é branca
é alvo o dia
e por todo o lado
o grito claro
das cerejeiras
entrega ao vento
a mais limpa melodia...
(Fundão)
A feira do queijo - Soalheira...
Situada na vertente Sul da serra da Gardunha, a região da Soalheira apresenta lugares de boas pastagens o que favorece a existência de inúmeros rebanhos.
Em terras de rebanhos, o queijo é rei.
O queijo da Soalheira é único pelas magníficas pastagens que lhe dão o sabor e pelo saber secular de quem lhe dá forma.
A Associação de Queijeiros da Soalheira nasceu para potenciar a qualidade do queijo com todas as suas características, tornando-o mais nobre.