Vandovsky
Um resto de tudo
A cerimónia do chá I
A cerimónia do chá (cha no yu), apesar da auréola de mistério que a envolve, tem, na realidade, uma motivação de base extremamente simples: a de um pequeno grupo de amigos que se junta para partilhar uma refeição, beber chá em conjunto e apreciar um breve momento de tranquilidade, longe das preocupações do dia a dia...
O costume foi introduzido no Japão no século XII, juntamente com o zen-budismo.
Os monges utilizavam o chá verde em pó para manterem-se acordados durante suas meditações noturnas. O hábito tranformou-se em filosofia, com a proposta de alcançar a paz com uma xícara de chá dando início ao chanoyu.
Nesta cerimônia, todo e qualquer movimento possui um significado de valorizar e purificar os utensílios, a sua beleza e a alma da pessoa. É um ritual a saber e a seguir, pois a ocasião assim o exige. Com bolachas, bolos, compotas, leite ou sem "acompanhantes", são vários os sabores que se poderão apreciar.
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Chá e companhia...
Uma xícara de Chá
Nan-In, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.
Nan-In, enquanto isso, serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:
"Está muito cheio. Não cabe mais chá!"
"Como esta xícara," Nan-in disse, "você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?"
Os Poderes Sobrenaturais
Certa manhã, o Mestre Daie, ao levantar-se, chamou seu discípulo Gyozan e lhe disse:
"Vamos fazer uma disputa para saber quem de nós dois possui mais poderes sobrenaturais?"
Gyozan retirou-se sem nada responder. Dali a pouco, voltou trazendo uma bacia com água e uma toalha. O mestre lavou o rosto e enxugou-se em silêncio. Depois, Daie e Gyozan sentaram em ante uma mesinha e ficaram conversando sobre assunto diversos, tomando chá.
Pouco depois, Kyogen, outro discípulo, aproximou-se e perguntou:
"O que estão fazendo?"
"Estamos fazendo uma competição com nossos poderes sobrenaturais", respondeu o Mestre, "Queres participar?"
Kyogen retirou-se calado e logo depois retornou trazendo uma bandeja com doces e biscoitos.
O Mestre Daie então dirigiu-se aos seus dois discípulos, e exclamou:
"Na verdade, vós superais em poderes sobrenaturais Sariputra, Mogallana e todos os discípulos de Buddha!"
Chá ou Paulada
Certa vez Hakuin contou uma estória:
"Havia uma velha mulher que tinha uma casa de chá na vila. Ela era uma grande conhecedora da cerimônia do chá, e sua sabedoria no Zen era soberba. Muitos estudantes ficavam surpresos e ofendidos que uma simples velha pudesse conhecer o Zen, e iam à vila para testá-la e ver se isso era mesmo verdade.
"Toda vez que a velha senhora via monges se aproximando, ela sabia se eles vinham apenas para experimentar o seu chá, ou para testá-la no Zen.
Àqueles que vinham pelo chá ela servia gentil e graciosamente, encantando-os.
Àqueles que vinham tentar saber de seu conhecimento do Zen, ela escondia-se até que o monge chegasse à porta e então lhe batia com um tição.
"Apenas um em cada dez conseguiam escapar da paulada..."
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A hora do chá
Entre as inúmeras variedades de chá existentes, as quais se distinguem pela sua origem e pela forma como são processadas, destacam-se os chás verde e branco, devido aos prodigiosos efeitos benéficos para a saúde.
Chá verde
Obtém-se pondo o chá a secar para eliminar a humidade da folha, inibindo-se assim a fermentação. É o mais consumido na China e no Japão.
Bancha, Genmaicha, Gunpowder, Kokeicha, Lung ching, Matcha, Sencha, Chá mu.
Cultiva-se em alguns lugares da China. É ligeiramente fermentado e produz uma infusão de cor muito pálida. Os rebentos são apanhados à mão durante apenas dois dias na Primavera. São precisos uns 80.000 rebentos para produzir apenas 250 grs de chá. Oferece um sabor e um aroma muito mais suaves do que os restantes e também contém menos teína.
Shou mei, Pai hao yin chin e Pai mu tan.
O chá foi introduzido na Europa pelos portugueses no século XVI. Um dos hábitos mais tipicamente britânicos, o "chá das cinco", foi introduzido na corte inglesa por Catarina de Bragança, princesa portuguesa, filha de D. João IV, quando esta casou com Carlos III de Inglaterra.
O dote de Catarina foi determinante para o futuro imperial da Inglaterra e o chá iria mudar para sempre a vida dos seus súbditos, tornando-se um elemento indissociável da sua personalidade e da sua maneira de ser. Ao ritual do "chá das cinco" estão associados os tradicionais scones e a marmalade, esta última também introduzida por Catarina de Bragança.
Bibliografia:
"Paixão pelo Chá"
Circulo de Leitores - Outubro 2009