Vandovsky
Um resto de tudo
Poesias e Lengalengas
O Castelo de Chuchurumel
Aqui está a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o boi
Que bebeu a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está o carniceiro
Que matou o boi
Que bebeu a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
Aqui está a morte
Que levou o carniceiro
E que entrega a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.
(Recolha e Selecção de)
Lenga-lengas
Livros Horizonte
O Gonçalo
Olha, lá vai o Gonçalo, além
A caminho da escola
Vamos depressa apanhá-lo
Vamos com ele também
Tem sido meu companheiro
Da primeira à quarta classe
Pontual como o primeiro
Nunca vi que ele faltasse
É bondoso e aplicado,
Cortês e respeitador
Por isso é tão estimado
Pelo nosso Professor
As meninas
Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"
Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina,
a mais sábia menina.
E Maria
apenas sorria:
"Bom dia!"
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.
Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"
(Ou Isto ou Aquilo)
Editora Nova Fronteira
O homem que não queria comer couves
Era uma vez um homem
Que não gostava de couves
E estava sempre a dizer:
- Couves não hei-de comer !
- Couves não hei-de comer !
Mandaram chamar o pau
Para vir bater no homem
O pau não quis bater no homem
E o homem não quis comer as couves
E estava sempre a dizer:
- Couves não hei-de comer !
- Couves não hei-de comer !
Mandaram chamar o lume
Para vir queimar o pau
O lume não quis queimar o pau
E o pau não quis bater no homem
E o homem não quis comer as couves
E estava sempre a dizer:
- Couves não hei-de comer !
- Couves não hei-de comer !
Mandaram chamar a água
Para vir apagar o fogo
A água não quis apagar o fogo
E o fogo não quis queimar o pau
E o pau não quis bater no homem
E o homem não quis comer as couves
E estava sempre a dizer:
- Couves não hei-de comer !
- Couves não hei-de comer !
Mandaram chamar o boi
Para vir beber a água
O boi não quis beber a água
E a água não quis apagar o fogo
E o fogo não quis queimar o pau
E o pau não quis bater no homem
E o homem não quis comer as couves
E estava sempre a dizer:
- Couves não hei-de comer !
- Couves não hei-de comer !
Mandaram chamar a morte
Para vir levar o boi
A morte quis levar o boi
O boi já quis beber a água
A água já quis apagar o fogo
O fogo já quis queimar o pau
O pau já quis bater no homem
O homem já quis comer as couves:
“eu ouvi sempre dizer
-como é bom couves comer !”
Alice Vieira
(Eu bem vi nascer o Sol)
Antologia da poesia popular portuguesa
Caminho
Lá vai o Manelzinho
a cavalo num burrinho
o burrinho é fraco
a cavalo num macaco
o macaco é valente
a cavalo numa trempe
a trempe é de ferro
a cavalo num martelo
o martelo bate sola
a cavalo numa bola
a bola é redonda
a cavalo numa pomba
a pomba é branca
a cavalo numa tranca
a tranca partiu-se
e o Manelzinho caiu.
Tradicional
As vozes dos animais
Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha;
Os ternos pombos arrulham;
Geme a rola inocentinha.
Muge a vaca; berra o touro;
Grasna a rã; ruge o leão;
O gato mia; uiva o lobo,
Também uiva e ladra o cão.
Relincha o nobre cavalo;
Os elefantes dão urros;
A tímida ovelha bale;
Zurrar é próprio dos burros.
Regouga a sagaz raposa
(bichinho muito matreiro);
Nos ramos cantam as aves;
Mas pia o mocho agoureiro.
Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar;
Fazem às vezes gorgeios,
Às vezes põem-se a chilrar.
O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas
Apenas sabe chiar.
O negro corvo crocita;
Zune o mosquito enfadonho;
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.
Chia a lebre; grasna o pato;
Ouvem-se os porcos grunhir;
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.
Bramam os tigres, as onças;
Pia, pia o pintainho;
Cucurica e canta o galo;
Late e gane o cachorrinho.
A vitelinha dá berros:
O cordeirinho, balidos;
O macaquinho dá guinchos;
A criancinha vagidos.
A fala foi dada ao Homem,
Rei dos outros animais,
Nos versos lidos acima
Se encontram em pobre rima,
As vozes dos principais.
Pedro Diniz