Vandovsky
Um resto de tudo
Natal... Quero acreditar
Cresci na ilusão de que era o Menino Jesus que nos trazia as prendas, acreditava convictamente e conseguia imaginá-lo a descer pela chaminé, para nos deixar as lembranças. Depois começou a escola, a conversa com os amigos, as deconfianças começaram a invadir-me, aos poucos apercebia-me da realidade, as questões surgiam sucessivamente:
- Porque será que temos sempre de nos esconder, quando o Menino Jesus vem deixar as prendas? Será ele assim tão timido, ou será feio e podemo-nos assustar ao vê-lo??
Mais tarde, já consciente da realidade, eu queria acreditar e continuei a acreditar, depois tinha o meu irmão, mais novo, que também ele acreditava vivamente e chegava mesmo a fugir com medo, quando ouvia algum barulho estranho... Por vezes ficava com receio de tocar nas prendas acabadas de chegar...
Dias antes, sempre que tinha oportunidade, eu procurava, por toda a casa, tentava descobrir onde estariam escondidos os presentes, mas nunca dava com eles... E no dia, aí estavam os ditos.....muitos.....enchiam a sala... Fantástico.....
Mais tarde, já consciente da realidade, eu queria acreditar e continuei a acreditar, depois tinha o meu irmão, mais novo, que também ele acreditava vivamente e chegava mesmo a fugir com medo, quando ouvia algum barulho estranho... Por vezes ficava com receio de tocar nas prendas acabadas de chegar...
Só mais tarde surgiu o Pai Natal – Claro que o Pai Natal Existe – Gosto de acreditar no Pai Natal, Gosto de todo o imáginário que o envolve, gosto dos duendes, gosto das fadas, gosto da neve, gosto da lareira acesa, gosto dos bolinhos feitos no forno, gosto do cheiro a canela, a maçã, a pinheiro, gosto da renas, dos esquilos, dos veados, dos ouriços, das nozes, das avelãs...
Gosto da ideia de conforto, paz, alegria e gosto das histórias de encantar... e assim aqui fica mais uma história a marcar esta quadra tão especial.
As três mentiras da avozinha
Era uma vez... Um Rei que andava a passear a cavalo e, quando atravessava uma das suas aldeias, viu uma linda menina à janela. Apeou-se e bateu à porta da respectiva casa, sendo atendido por uma velha.
- Quem é aquela menina, avózinha? – perguntou o Rei indicando a janela.
A velha, que tinha tanto de ambiciosa como o Rei de curioso, lembrou-se de constituir este bom partido para a moça, que afinal era sua neta. Assim juntou falsa qualidade à beleza, no intuito de conquistar-lhe mais facilmente o coração e respondeu:
- É minha neta, Majestade! E, que eu saiba, não há rapariguinha mais prendada no reino. Ela possui a habilidade de fazer uma camisa, capaz de passar pelo fundo de uma agulha.
- Ela que tente então fazer-me uma camisa nessas condições. Se o conseguir, serei seu marido. De contrário, mandá-la-ei matar- acrescentou o Rei, adivinhando a manha da velha.
Partiu o Rei, e a moça, que ouvira a conversa e sabia-se incapaz de tal proeza, desfez-se em lágrimas. De repente apareceu-lhe uma mulher apoida a um cajado e com um saco no braço, que lhe perguntou:
- Que tens tu, minha linda menina?
E esta logo lhe contou o que acabara de suceder. A mulher então disse-lhe:
- Não chores mais, pois eu dou-te a camisa de que precisas. Contudo, imponho para isso uma condição - Que me chames tia no dia do teu casamento.
A rapariga concordou e amulher abriu o saco, tirou dele a camisa e entregou-lha, desaparecendo em seguida.
No dia seguinte, aquela foi na companhia da avó, apresentá-la ao Rei. Ma a avó notou que ele não parecia contente e mentiu mais uma vez, dizendo-lhe que a neta era capaz de ouvir a três léguas de distância.
- Pois, se assim é, tem de comprová-lo, para que casemos. Doutra forma, mandarei matá-la.
Saíu a menina toda chorosa do paço. Mas, horas depois, estando só, surgiu-lhe a mesma mulher, que lhe falou assim:
- Não te aflijas. O Rei está neste momento a três léguas de distância daqui. Se tu me prometeres chamar tia, no dia do teu casamento, dir-te-ei a conversa que ele a caba de ter com o seu escudeiro.
De novo a menina acedeu e amulher logo lhe contou a conversa. O Rei, quando aquela lhe respetiu a dita conversa, é que não se mostrou ainda completamente satisfeito. Por isso, e imediatamente a avó lhe afirmou:
- Senhor, alegrai-vos, pois a minha neta também é criatura para fiar uma meada de linho em meia hora.
- Então, ou fia e casamos, ou morrerá – determinou o Rei, entregando à menina uma meada de linho, juntamente com uma roca e seu fuso, e ordenou aos seus guardas:
- Fechem a pequena num aposento do palácio durante meia hora, a fim de que ela cumpra a tarefa.
A sós, a rapariguinha pôs-se a lamentar mais uma vez a sua má sorte. E, mais uma vez também, lhe surgiu a costumada mulher, que num instante lhe fiou a meada, sob a mesma condição, imposta anteriormente.
Ao cabo da meia hora determinada, abriu-se a porta do aposento e a menina disse ao Rei:
- Aqui tem fiado, o linho. E a gora lembro a Vossa Majestada que palavra de Rei não volta atrás.
Já satisfeito, o Rei casou-se com a moça. Mas, no momento da boda, apresentaram-se, sucessivamente, no salão do banquete, três mulheres feíssimas, possuindo, ora uns olhos, ora umas orelhas, ora uns braços, que, pelo se excessivo tamanha, recordavam bolas de bilhar, orelhas de burro e serpentes.
A menina, agora rainha, saudou cada uma delas assim:
- Viva, querida tia! Como passa? Deite-me a sua benção...
Admirado com o aspecto das intrusas, o Rei perguntou-lhes porque possuiam tão grandes olhos, orelhas e braços. E as mulheres responderam-lhe, à vez:
- Saiba, Vossa Majestade, que os meus olhos ficaram assim, por ter de fazer-vos uma camisa, que passasse pelo fundo de uma agulha.
- Ai, Real Senhor, para ouvir a vossa conversa com o escudeiro, as orelhas cresceram-me desta maneira!
- Fiei, em meia hora, uma meada de linho para a minha sobrinha. E, com tal esforço, os braços ganharam este tamanho.
Em face das respostas, o Rei não só percebeu que a noiva o enganara, como também que, se esta tivesse satisfeito pessoalmente as sua exigências, deixaria de ser linda para tornar-se feíssima, senhora de uns olhos, de umas orelhas e deuns braços semelhantes aos das três tias.
Então, o Rei perdoou-lhe e, com isto, não se arrependeu, pois foi muito feliz no casamento.